Após dois anos e quatro
meses de deflagrada a operação de busca e apreensão de documentos na
Assembleia Legislativa do Pará, o Ministério Público do Estado está
concluindo a investigação dos crimes de corrupção que sangraram o Poder
Legislativo em cerca de R$ 106 milhões. Até agora, foram ajuizadas 15
ações de improbidade administrativa e oito ações criminais. As duas
últimas ações serão ajuizadas esta semana contra o ex-presidente
Domingos Juvenil (PMDB), que hoje é prefeito de Altamira. Nenhum
processo recebeu decisão final ainda, mas onze pessoas chegaram a ser
presas temporariamente, dois servidores foram afastados da Alepa e 58
tiveram os bens decretados indisponíveis por força de liminar -
incluindo Juvenil. Dentre mais de 150 acusados, nenhum está preso. O
levantamento é do MPE. O promotor de Justiça Domingos Sávio Campos, da
Promotoria de Direitos Constitucionais, Defesa do Patrimônio Público e
da Moralidade Administrativa, que assumiu interinamente a investigação
do caso Alepa, evitou revelar mais detalhes das últimas ações que ainda
serão ajuizadas. Elas tratam de fraudes nas comissões de licitações de
obras e de aquisição de produtos permanentes da Casa, na gestão
peemedebista. Por meio das ações já protocoladas, o MPE pediu o
ressarcimento de R$ 40.858.120,11 ao erário público, valor que deverá
ser atualizado até o julgamento final dos processos. Entretanto, com as
próximas ações, nas quais será requerida a devolução de R$ 65.072.577,19
e de R$ 870.930,30, o montante da roubalheira na Assembleia do Parpa
chega a R$ 106.801.627,60. Pelo menos desde o ano de 2009, o MPE vinha
tentando apurar denúncias publicadas na imprensa de irregularidades no
Legislativo do Pará. Havia notícias de excesso de estagiários e de
funcionários fantasmas, entre outras. Os reiterados ofícios que os
promotores de Justiça enviavam à presidência da Alepa, cobrando
explicações, não eram respondidos. O MPE era ignorado. As investigações
emperravam. Até que a premissa legal da independência entre os poderes
foi descortinada em 19 de abril de 2011, em nome da moralidade. A
Operação Hiroshima apreendeu documentos e computadores na sede do Poder,
nas residências de servidores do alto escalão e até no gabinete do
Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran), onde o ex-diretor
financeiro da Alepa, Sérgio Duboc, exercia o cargo de diretor- geral,
fornecendo o arsenal de informações que o MPE buscava, conforme lembra o
procurador de Justiça Nelson Medrado, que participou das investigações.
No Detran foram encontrados quatro processos licitatórios do período em
que Sérgio Duboc era diretor da Alepa, nos anos de 2005 e 2006. Também
foram apreendidas caixas com contracheques em nomes de diversos
servidores, cestas básicas e vales alimentação que deveriam ser
repassados a servidores na casa de Daura Hage, ex-integrante da Comissão
de Licitação da Casa. No apartamento do ex-deputado Robgol foram
encontrados R$ 500 mil em dinheiro e R$ 40 mil em vale-alimentação da
Alepa. A informação de onde e com quem as informações que o MPE
procurava poderiam estar veio de dentro. A ex-chefe do setor de pessoal,
Mônica Pinto, resolveu falar após
ter sido acusada pela Alepa de usar o
cargo para contrair empréstimos ilegais no Banpará, situação que levou à
exoneração dela após 16 anos de serviço comissionado. Mônica sabia
demais e fez acordo de delação premiada, que implica em redução de pena.
FRAUDES Mônica Pinto foi a ponta do novelo que revelou fraudes em quase
100% dos processos licitatórios da Assembleia e adulterações na folha
de pagamento em vários níveis. Os promotores de Justiça descobriram de
tudo: empresas fantasmas, gente que emprestava o nome para abrir
empresas para maracutaias em troca de dinheiro, empresário que teve a
assinatura falsificada e a firma usada sem autorização, objeto de
contrato que não existiu e até sucessivas vitórias da mesma empresa nos
mais diversos ramos de atividade - foi o caso da JC Rodrigues (Croc
Tapioca), pretencente a José Carlos Rodrigues Souza, ex-marido de Daura.
Detalhe: nenhum pagamento deixou de ser feito pelo erário. Na folha,
foi revelado que gente humilde, como domésticas da Terra Firme, cedeu os
documentos pessoais em troca de promessas de cestas básicas e até de
doação de brinquedos, mas eles acabaram virando servidores fantasmas.
Ainda, um grupo seleto de servidores tinha acesso à senha ao sistema da
folha de pagamento para incluir gratificações e outras vantagens ilegais
nos próprios contracheques e também nos de laranjas. O MPE apurou que o
programa criado por Caddah, era usado para desfazer as alterações no
sistema da folha. Com isso, a folha fraudada era enviada para o
pagamento no Banpará, deixando para arquivo a versão sem o rastro do
crime. Nem a própria Alepa escapou à quebra de sigilo bancário.
Novamente, foi confirmada a versão de Mônica. Foram tantos processos
ajuizados, que o MPE tem dificuldade de fazer o levantamento das pessoas
envolvidas, apontando que são mais de 150 pessoas processadas, no
momento. Além das medidas liminares de indisponibilidade de bens, também
foram decretadas os afastamentos dos servidores Sandro Rogério Nogueira
Sousa Matos, que atuou na comissão de licitação, e Madalena Maria de
Castro Ribeiro, para melhor condução das investigações e instruções
processuais.
O Liberal
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